Acordou, tomou um banho, abriu a única janela que iluminava o seu quarto. Bebeu um copo de leite, vestiu qualquer coisa que por lá se encontrava no seu vasto roupeiro. Um dia melancólico, um dia nostálgico como qualquer outro começou. Saiu de casa, com os seus óculos de sol (mas nem sol estava) e pouco mais disse do que olá ao seu amigo que nesse dia por azar encontrou. O que menos queria era poder encontrar alguém conhecido, ter que esboçar um leve sorriso para não ser exposta a perguntas, para as quais não tinha resposta alguma. Durante a sua saída de casa, ia ouvindo as conversas transversais, ouviu tudo o que não queria ouvir, tudo o que a deixava ficar mais em baixo e até chegou a sentir inveja de algumas pessoas, mas que sentimento tão horroroso. Parou e pensou para si própria que ia esquecer o que tinha ouvido, pois não podia comparar-se a certas situações.
O seu passo acelerado pela rua fez com que fosse contra o seu próprio namorado. Era o que menos desejava naquele momento, sabia que com ele não conseguia esboçar o falso sorriso, sabia que com ele não seria tão agradável, sabia que era a pessoa que teria que suportar o seu dia melancólico. Não resistiu e a primeira coisa que fez foi contar-lhe a inveja que ela estava a sentir, e que sentia-se mal por ter esse sentimento com ela. Ele tentou acalma-la, acariciou-a e convidou-a a ir ao cinema. Foram ver uma comédia, para que toda aquela melancolia desaparecesse, ela estava-se a sentir bem melhor com ele, é verdade. Aquela comédia estava a diverti-la, mas tocava num ponto fraco. Andava sensível e aquele ponto fraco vinha sempre todos os dias á sua cabeça era o pior que podia ter acontecido.
Assim que acabou o cinema, ela pediu para deixa-la em casa. Iam subindo as escadas do seu prédio, quando ela o beijou loucamente, quando todos os pontos fracos queriam ser superados ali sem que nada os pudesse impedir, quando a melancolia estava prestes a sair, uma porta abriu-se, tiveram que parar ali. Ele foi deixa-la em casa com longo beijo de despedida, pois seus pais estavam em casa. Ela foi logo para o seu quarto, fechou a janela e deitou-se mesmo vestida. Todo o seu dia caiu nela, tudo o que fez, tudo o que disse e sentiu-se mal consigo mesma. Ligou ao seu namorado e pediu desculpa. Despediram-se com todo o carinho e foram dormir. Um dia melancólico, um dia nostálgico como qualquer outro tinha acabado.